Geração Y dita onda de quartos enxutos e com mais tecnologia
Valor Econômico - 18/03/2016
A estagnação da hotelaria brasileira, após anos de expansão, acelerou por aqui tendência que vem ganhando espaço no mundo: hotéis com menos móveis nos quartos e mais tecnologia disponível. Mesas de trabalho, guarda-roupas e carpetes dão lugar a mobília simples, pisos frios e lobbies mais amplos, com muita internet.
Segundo executivos de grandes redes no Brasil, a mudança atende a demandas de um novo público consumidor - jovens de 20 a 36 anos de idade - e também permite construções mais eficientes e econômicas.
"É uma tendência que tem relação direta com os 'millennials'",diz o sócio presidente da Nobile, Roberto Bertino, que responde pela quarta maior rede hoteleira do país, que gerencia 27 hotéis que somam 6 mil quartos.
"São jovens profissionais que querem praticidade e exigem tecnologia", disse o executivo sobre a geração também conhecida como Y, de pessoas nascidas entre 1980 e 1997 e que será ainda mais influente nos próximos três anos. Nesse período a Nobile planeja abrir mais 30 empreendimentos, sendo 5 de marca própria, 3 da bandeira Red Roof e outros 22 da marca Wyndham.
Segundo a empresa de pesquisas Euromonitor, a geração Y já é a maior consumidora do planeta, com quase 3 bilhões de pessoas, e seguirá líder em 2020.
"Esse jovem vai com o tablet e o smartphone para todo lugar. Ele quase não usa a mesa. Ele usa os dispositivos na cama, até no banheiro", reforça o vice-presidente de implantação e construção da Accor Hotels América do Sul, Paulo Mancio, que responde pela maior rede do país, com 170 hotéis e 31 mil quartos.
Nos novos empreendimentos de uma das bandeiras da Accor, a Novotel, voltada ao público corporativo, mesas foram retiradas dos quartos e os guarda-roupas diminuíram, deixando de ser elementos rígidos, fixos e com portas.
Até o carpete - por décadas um item associado à hotelaria, está saindo dos quartos.
"É um público mais preocupado com questões de higiene e alergias. Por isso, aceitam o piso frio, que hoje apresenta produtos que resolvem a questão, por exemplo, do isolamento acústico, também associado aos tapetes", diz o sócio e presidente da Allia Hotels, André Monegaglia. A empresa responde por uma rede de 36 empreendimentos no país e 3,5 mil quartos, a 11ª maior do país.
A acústica é considerada qualidade essencial para a geração Y, apontou pesquisa que a consultoria Mapie fez neste ano, e ainda não divulgada.
"Mais de 98% dos entrevistados desse público consideram o silêncio extremamente importante", diz a sócia diretora da Mapie, Carolina Sass, que atende grandes redes de hotéis no Brasil e América do Sul.
Monegaglia, do Allia Hotels, diz que a bandeira do grupo mais voltada a esse público, a All Inn, também está testando projetos em que há maior integração entre quartos e banheiros. Essa é outra demanda já percebida por redes globais atentas a gostos particulares dos brasileiros. "De acordo com nossas pesquisas, percebemos que os brasileiros não são adeptos do carpete e, mais do que isso, não gostam de banheiras com cortinas na hora de tomar banho, diferentemente dos norte-americanos", conta o presidente da rede Marriott para Caribe e América Latina, Tim Sheldon, que responde no Brasil por uma rede de seis hotéis e 1,4 mil quartos.
O outro lado da tendência que diminuiu quartos e tirou mobília dos apartamentos é a necessidade de aumentar investimentos em equipamentos e tecnologia nas áreas de convivência compartilhada, como os lobbies.
"Os viajantes corporativos de hoje no Brasil e no mundo são, mais do que nunca, pessoas que querem aproveitar ao máximo as suas viagens de trabalho. Gostam de se manter conectados ao mundo por meio de seus aparelhos móveis", aponta o presidente da Marriott, Sheldon. "O Wi-Fi é algo extremamente importante. A conexão precisa ser excelente para os 'millennials', que compartilham a todo momento experiências em redes sociais."
De todas as tendências, essa é a que mais vai se fortalecer, dizem os executivos da hotelaria brasileira. "É algo que vai além da questão da internet. Isso é básico. Esse público quer automação", diz o presidente do Allia Hotels.
Monegaglia cita novidades já disponíveis no exterior como aplicativos que permitem ao hóspede controlar - do smartphone - itens como mídia, cortinas e até nível da banheira.
"Da rua, com o aplicativo no celular, eu conseguia programar o enchimento da banheira, na temperatura desejada", conta o executivo sobre um hotel em Las Vegas. "Ainda é caro para o Brasil, que tem um perfil do parque hoteleiro mais econômico. Mas vai chegar com o tempo, na medida em que ganhar escala", acredita.